quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

MEMÓRIAS ILLUSTRADAS DE VIAGENS II em hojilla Atala (R) e amostras grátis de papel reciclado

Aiai, o Uruguai...


"El fantasma de Atala a caballo en las cuchillas",
nanquim sobre marca d'agua numa hojilla Atala (R)
[6,9 por 3,8 centímetros].


Atala (R) é o Colomy (R) uruguaio. Li na contracapa dum livro que durante a ditadura militar uruguaia esses discretos papeizinhos foram heróicos meios de comunicação para os presos políticos (ao menos para os fumantes). Antes de ser uma marca de papel de cigarro, Atala é uma personagem de folhetim do romântico Chateaubriand. Trata-se de uma índia (esses românticos são obcecados por índias) que se converte em crente e e a partir de então se envolve em emocionantes aventuras e divertidas confusões para morrer virgem (li o resumo de três parágrafos na Wikipédia e já fiquei de saco cheio). A Atala uruguaya que a portada do libreto de hojillas me evocou, entretanto, é diferente. Com seu esvoaçante xale escarlate, essa libertina ameríndia charrúa cavalga livre-leve-e-solta pelas coxilhas tocando o terror nas bandas orientais. A lombada desse libreto ainda anuncia 73-75 hojillas (73-75 folhinhas): um raro e tocante exemplo de honestidade industrial.


"El General a caballo entre edificios y antenas",
nanquim e amostra grátis de papel reciclado
[11,5 por 8 centímetros],

Montevideo, 28/12/08.

O que dizer do Gal. Artigas? Não aprendi muito da história oficial uruguaia. Resolvemos puxar conversa com uma velhinha que tinha o retrato do bonitão na parede:
- ¿Quién es? - apontamos para o quadro, como se já não soubessemos se tratar do onipresente general.
- Es el General José Gervasio Artigas, héroe de la Independencia! - e, sabendo-nos brasileños, emendou - ¿Y quién es para ustedes? ¿Tiradentes?
Tive a sutil sensação de que aquela doce senhora estava sendo irônica. Desacreditei, não podia ser... mas que era uma boa ironia, era!


"Punta del Diablo",
que fica embaixo dum buraco numa camada de ozônio e onde arde um sol infernal.


"Los pescadores", Pta. del Diablo, 25/12/8.


"Colonia del Sacramento".
O céu mais foda que já vi.
As luzes porteñas do horizonte além rio se mesclavam à luz das estrelas. Se eu gostasse de cores teria usado vermelho, laranja, azul da prússia e púrpura.


"Rueda de guitarra en la Fortaleza de Sta. Tereza".

Já o céu de Sta. Tereza era de um negro profundo. Roda de violão com fogueira, nos fundos de uma calorosa e hospitaleira bodega uruguaia, e essa ao pé de uma fortaleza setecentista. Ao pegar o violão naquele lugar me senti o Pateta dos Pampas do clássico da Disney "Saludo Amigos", cuja imagem marcou permanentemente o meu imaginário campeiro (nesse caso, é melhor aprender o "folclore" num desenho-animado que no CTG). Num playback de vitrola, o personagem charlatão finge para si mesmo e para seu cavalo que toca uma milonga melancolica. Não fiz muito diferente ao puxar "Hasta Siempre Comandante", de Carlos Puebla, fingindo pra mim mesmo e para os hermanos orientales ali presentes que yo hablo español.